domingo, 28 de setembro de 2014

História da Banda

       A história do Raimundos começa como uma brincadeira entre amigos. Vizinhos em um bairro nobre de Brasília, Rodolfo e Digão se conheceram e começaram a tocar juntos, isso em 87. Por muito tempo tocaram covers de suas bandas favoritas, entre elas Dead Kennedys, Suicidal Tendencies, e, é claro, Ramones. E nas brincadeiras, Rodolfo começou a fazer versões punk para músicas do sanfoneiro Zenilton, o único que ele gostava por causa da sacanagem nas letras. E foi dessa brincadeira que surgiu o Raimundos.

       Para completar a banda chamaram o Canisso e mais o amigo Titi, e com essa formação - Rodolfo na guitarra, Digão na bateria, Canisso no baixo e Titi nos vocais - ele fizeram o primeiro show na casa do amigo Gabriel (atualmente no Autoramas), durante o réveillon de 88. Mas a formação durou somente um show, e a banda seguiu como um trio, com o Rodolfo assumindo os vocais.

      Seguindo com apresentações fazendo covers, a banda durou até 90, quando se separaram após uma tentativa fracassada de partir para um estilo diferente - fazer heavy metal, como estava na moda naquela época. E em 92 surge um convite de um desavisado produtor, e a banda resolve retornar, mas na época Digão já tinha abandonado a bateria por causa de problemas de audição, partindo para a guitarra. Sem um baterista, apelaram para uma bateria eletrônica e o resultado foi desastroso. E na busca de um quarto componente, Fred se encaixou perfeitamente, além de se revelar uma pessoa bem disposta a levar à banda a outros rumos.

      Em 93 já gravavam a primeira demo, que foi um sucesso no público underground e garantiu à banda inclusive participações em programas na MTV e festivais como o Junta Tribo (em Campinas, quando se tornaram nacionalmente conhecidos) e o M2000 Summer Concerts em Santos, quando ainda uma banda independente, tiveram a chance de tocar para 80 mil pessoas - e saíram como revelação do festival, inclusive sendo capa de alguns jornais no dia seguinte. Já em 94 assinavam contrato com o recém-lançado selo Banguela, do produtor Carlos Miranda junto com o Titãs. Lançaram pelo selo o histórico primeiro álbum, "Raimundos", que trazia a mistura característica da banda: forró com hardcore, além de outros ritmos.

      Fizeram um sucesso considerável e ganharam as rádios com a inusitada "Selim", música que sequer foi escolhida para ser de trabalho, mas que por causa do público foi parar nos primeiros lugares das paradas das rádios brasileiras. Receberam disco de ouro - o que, apesar de todo o otimismo em cima do trabalho da banda, foi uma grande surpresa por ser um disco de rock pesado e conter muitos palavrões - e assinaram contrato com a gravadora WEA, que fazia a distribuição dos álbuns lançados pelo Banguela.

      Em 95 lançam o segundo álbum, "Lavô Tá Novo", e passam facilmente pela "prova do segundo álbum", onde muitos grupos naufragam. Fazem um sucesso tremendo e novamente ganham as rádios com "Eu Quero Ver o Oco" - considerado por muitos como o hino do rock nacional dos anos 90 - "O Pão da Minha Prima" e "I Saw You Saying". A turnê se estende tamanho o sucesso (inclusive com shows no exterior), e para cobrir um espaço sem lançar nada e, aproveitando a época de natal, resolvem lançar em 96 um kit para os fãs. Batizado de "Cesta Básica", o Box-Set contendo CD (que recebeu o mesmo nome e é vendido separadamente), fita de vídeo (com clipes, entrevistas contando a carreira da banda e trechos de shows) e revista em quadrinhos (assinada pelo cartunista Angeli) esgotou em poucos meses e atualmente é uma raridade cobiçada por muitos fãs.

      Em 97 a banda vai para os Estados Unidos gravar o quarto álbum, pois não havia bons estúdios disponíveis na época aqui no Brasil. E a distância dos amigos aqui do Brasil, a cena roqueira de Los Angeles e a vontade de acabar com o estigma de banda engraçada culminam no álbum mais pesado da banda, o "Lapadas do Povo". Na verdade a característica principal do álbum nem se prende ao peso, pois há músicas mais acessíveis como "Pequena Raimunda" e "Bonita", mas o que diferencia este álbum dos outros foi um distanciamento a uma das características mais marcantes da banda, que era a sacanagem e a alegria.

      Mas o fato mais triste da carreira da banda até então marcou o início da turnê do "Lapadas do Povo", quando uma fatalidade causou a morte de 8 fãs após um show em Santos. O fato abalou profundamente o grupo, que cancelou as datas já marcadas e só retornariam aos palcos dois meses depois. A turnê foi menor que a dos anos anteriores e a banda precisava de um álbum mais pra cima, para melhorar o clima que rondava a banda.

      E veio então o quinto álbum, "Só no Forevis", lançado em 99. Desde as gravações, passando pelas participações especiais até o resultado final, tudo se desenrolou com bastante entusiasmo e o resultado não poderia agradar mais à banda. A primeira música a ser composta, "A Mais Pedida", já trazia em sua letra uma certa acidez ao criticar a censura nos shows da banda e o espaço nas rádios tomado por outros ritmos, como o pagode. A própria capa do disco baseou-se nisso também, uma brincadeira com pagodeiros e com a proliferação desenfreada de grupos desse ritmo. E na hora de escolher a primeira música de trabalho, a própria banda optou por uma que representasse bem um ritmo que eles já praticavam há muito tempo - batizado de hardcore melódico - presente em músicas como "Bestinha", "Bonita", e então ficaram como "Mulher de Fases" como primeira música.

      Mas na véspera do lançamento do álbum, mais um susto: a empresa onde as 100 mil cópias do álbum estavam guardadas é assaltada e levam tudo. Um baque para a ansiedade da banda, que teve que aguardar mais uma semana para que uma nova tiragem fosse feita.

      Na época a faixa "Mulher de Fases" já estava estourada nas rádios e na MTV, levando a banda a vários programas de TV e chegam ao disco de platina, superando 500 mil cópias vendidas.

Texto: Rodrigo Ribeiro.

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